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O encerramento da MAC

Como não podia deixar de ser, como boa portuguesa que sou, também tenho uma opinião sobre o eventual/ eminente/ tão falado encerramento da MAC (Maternidade Alfredo da Costa), essa instituição hospitalar onde, de há muitos anos para cá, tem vindo a nascer grande parte dos lisboetas (em sentido lato).
Só que a minha opinião não coincide com a opinião que, de forma maioritária, tem vindo a ser expressada nos meios de comunicação social, nas redes sociais, nos cabeleireiros, paragens de autocarro e cafés. Ou seja, contrariamente ao que parece ser a opinião quase generalizada dos portugueses, não considero uma atrocidade, uma imoralidade nem uma vergonha o encerramento da dita.
E passo a explicar porquê.

O senhor António tem um carro de 1970 que tem tratado com todo o zelo e mesmo carinho, na tentativa de o preservar. Foi nesse carro que transportou os seus filhos à escola, que foi de ferias e que se deslocou para todo o lado durante os últimos 42 anos. Mas o carro já não reúne as mínimas condições de segurança e conforto. Já não aguenta uma viagem longa, tem uma manutenção caríssima e por mais dinheiro que se gaste com ele não passa de um carro velho e obsoleto. Perigoso até, para quem viaja com ele e para quem com ele se cruza na estrada.
É verdade que o senhor António podia substituir os bancos já gastos pelo tempo, pôr uns vidros eléctricos, mudar o sistema de travagem e mesmo o motor. Mas o investimento não iria compensar. Por isso, o senhor António despede-se do seu boguinhas ( com pesar, é certo) e compra um carro novo, moderno, com vidros eléctricos e ar condicionado, seguro, com ABS e sistema de travagem eficaz, e, imagine-se, até amigo do ambiente.
Consideram esta decisão do senhor António uma atrocidade, uma imoralidade ou uma vergonha? Eu cá considero que o senhor António tomou a decisão certa, que só peca por tardia. A partir de agora, o senhor António vai poder deslocar-se com conforto e segurança, sendo nessas condições que igualmente ira buscar os seus netos à escola e visitar a família à terra.

A D. Lurdes nasceu numa casa de construção precária num bairro degradado dos suburbios de Lisboa. Nessa casa cresceu, casou, teve e criou os seus filhos. Sem agua, sem luz, com uma casa de banho na rua. No inverno ainda usava o penico, pois sair da cama para a noite fria e escura custava muito. A determinada altura, a D. Lurdes conseguiu ligação à rede publica de agua, luz e saneamento, mas a sua casa continuava a não ter quaisquer condições de conforto, não obstante a D. Lurdes, mulher prendada e asseada, a ter sempre num brinco de limpeza e arrumação. Era uma casa velha, fria, húmida e apresentava já alguns sinais de degradação e insalubridade. As condições da casa punham inclusivamente em causa a segurança e a saúde de quem nela vivia e de quem a frequentava. Os netos da D. Lurdes nem queriam lá dormir!
É verdade que a D Lurdes podia fazer umas obras de raiz na casa, remodelando-a por completo, reforçando a estrutura e as paredes e equipando-a com alguns equipamentos modernos e que conferissem maior conforto aos seus ocupantes. Mas o investimento não iria compensar. Por isso, a D Lurdes despede-se da sua casinha ( com pesar, é certo) e muda-se para uma casa mais nova, um pequeno apartamento com alguns anos mas com muito melhores condições, com gás canalizado, transportes à porta e, imagine-se, até com aquecimento central.
Consideram esta decisão da D Lurdes uma atrocidade, uma imoralidade ou uma vergonha? Eu cá considero que A D Lurdes tomou a decisão certa, que só peca por tardia. A partir de agora, o D. Lurdes vai poder descansar na sua casa, quentinha e confortável como ao fim de uma vida de trabalho e labuta bem merece. E já tem condições para ficar com os seus netinhos, que adoram a casa nova. Principalmente o Manuel, que na casa velha ao fim de um par de horas, por causa da humidade, ficava logo cheio de pieira!

A MAC, é certo, é uma maternidade onde nasceram milhões ( não devo estar a exagerar) de portugueses, com um historial incrivel e admirável, que será sempre recordado. Mas uma maternidade não é suposto ser um museu. É suposto ser uma instituição clinica dotada de todas as condições, infra-estruturas, equipamentos, etc, , adequados a trazer crianças ao mundo e a prestar assistência médica a essas crianças e suas mães. Não é preciso ser um hotel de 5 estrelas, é verdade, mas também não tem que ser um curral.
E a MAC, meus caros, já há muito não reúne as condições que era suposto uma maternidade desta dimensão e envergadura reunir. As instalações estão velhas e obsoletas. Os equipamentos e meios clinicos disponiveis não estao preparados para dar resposta a determinados quadros clinicos decorrentes de complicações que afectam muitas das mulheres que lá vão parir e que em situações mais complicadas têm que ser transferidas para outros hospitais, com os riscos dai decorrentes. Conforto não existe, nem muito nem pouco, nenhum.
É verdade que se podiam fazer obras de fundo no edifício, mas o investimento não iria compensar e a MAC continuaria padecer de alguns problemas que a afectam ( nomeadamente o de apenas estar preparada para dar resposta às complicações com os bebes e nao com as suas mães).
Por isso, sou de opinião que esta é uma decisão correcta, que peca por tardia.

Outra questão é a de saber qual a alternativa proposta pelo Governo e se a mesma é viável ou se é pior a emenda que o soneto. Essa sim, a meu ver, a verdadeira questão que se coloca e que ainda não vi convenientemente esclarecida.


2 comentários:

  1. Anónimo15:21

    Esta manifestação de opinião demonstra um desconhecimento absoluto sobre o funcionamento e as condições, quer humanas quer técnicas, de funcionamento da Mac. Já para não falar nas condições de privacidade e conforto existentes do momento do parto na Mac, que sendo sujectivas, qualifico de muito boas.
    Efectivamente nenhuma mulher é transferida da Mac em trabalho de parto para qualquer outra unidade hospitalar por falta de condições da Mac; antes pelo contrário, são recebidas na Mac inúmeras mulheres em pleno trabalho de parto transferidas de outras unidades hospitalares para a Mac, por falta de condições técnicas das outras unidades hospitalares.
    É de lamentar que um texto como o presente emita uma opinião coberta de desconhecimento, e logo, de falsidade sobre a realidade dos factos. Mas ainda assim esteja visível e acessível na internet.
    No entanto o seu subscritor é livre de se manifestar a favor do encerramento da Mac; o que não deveria de todo acontecer é fundamentar a sua opinião em falsidades.

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  2. Respeito opiniao contrária à minha mas a minha mantém-se. Quero apenas esclarecer alguns pontos que podem não ter ficado claros, nomeadamente:
    - que nunca pus nem quis por em causa a competência das equipas da MAC, que de uma forma geral tenho na melhor conta;
    - que a minha opiniao se baseia no que já vi da MAC e nos relatos de pessoas amigas que lá estiveram internadas e/ou lá trabalham ou trabalharam;
    - que nunca disse que as mulheres em trabalho de parto eram transferidas para irem ter bebe a outros locais mas sim que existem inúmeras situações em que por complicações no parto e por a MAC não ter equipamentos médicos para dar resposta a estas situações, as mulheres têm que ser transferidas. Estes casos existem e são muitos. Tive uma amiga que em virtude desta impossibilidade de assistência imediata ficou num estado vegetativo e acabou por morrer. E mal conheceu a filha que tanto desejou. Conheço outros casos, felizmente com final mais feliz.

    E é por este conjunto de factores que acredito que a MAC e o seu conceito estão ultrapassados e defendo, se calhar ignorantemente, que as maternidades deverão ser integradas em hospitais por forma a ser permitido o recurso a todos os meios clínicos e equipamentos. Especialmente no caso de maternidades onde nascem tantas crianças e onde, consequentemente, existem tantas situações de potencial risco.

    Mas é só a minha opiniao, que expressei num blog que também é meu e que não pretende ser rigorosamente mais nada.

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