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Copa do Guadiana

E cá estamos nós nos algarves, a acompanhar a cria mais velha num torneio de futebol que dura a semana inteira e em que os nossos pequenos jogadores ficam entregues a si próprios,  sem pais. Sozinhos no hotel, com a equipa tecnica, levantam-se, comem, vestem-se, deitam-se, tudo, tudo, tudo sem nós.
Uma semana. Uma experiência fantástica para os nossos meninos. Mais do que os jogos, as vitorias, as derrotas,  as alegrias e as frustrações das derrotas, vale o espirito de equipa, a diversão,  a cumplicidade, o companheirismo

Aproveitem miudos,  divirtam-se muito!

Trinta e todos.

Ontem fiz anos. Trinta e nove. Caramba, ainda ontem tinha vinte e já estou quase a dobrar. Acho que está na altura de me portar como uma mulher crescida. Trinta e todos. Chiça,  que isto passa a voar...

Se há coisa que me enerva...

... é esta mentalidadezinha tuga de merda!

Temos uma selecção que se viu aflita para se qualificar para o mundial, competição que como o próprio nome indica tem como candidatos os paises do mundo, mundo esse que é grande pra caneco. Pelo menos a ultima vez que tive noticias dele era.
Temos uma selecção que na verdade nunca ganhou porra nenhuma  e apenas por uma vez - que me lembre apenas uma vez e numa competição europeia, sendo que tanto quanto sei a europa é mais pequena do que o mundo) esteve perto de ganhar.
Temos uma selecção que não é sequer a melhor dos ultimos anos (não é melhor do que outras que sendo melhores ainda assim não ganharam merda nenhuma).

Mas como temos o Cristiano Ronaldo e gostávamos muito, mas mesmo muito, de ganhar alguma merda para compensar todas as tristezas e crises e troikas e frustrações e o caraito, acham alguns (muitos) que se vai dar uma espécie de milagre e vamos ser campeões do mundo.  De preferência sem derrotas e com goleadas a equipas comprovadamente mais fortes do que nós. Tudo isto porque queremos muito, claro. E merecemos mais do que todos, só porque sim.
E hoje, que perdemos o primeiro jogo, contra a Alemanha, o país está à beira de sair à rua, armado e com espírito de golpe de estado!

Jogámos mal? Jogámos sim senhor. Tivemos azar? Tivemos sim senhor. Podíamos ter feito melhor?  Podiamos sim senhor. Temos capacidade para ir mais além? Talvez tenhamos, talvez não. E somos uma merda por isso? Pois parece que para os infalíveis e exemplares portugueses sim.

Portuguesinhos, metam uma coisa na cabeça: somos um país pequenino, em tamanho (e meus caros, digam o que disserem, o tamanho importa) e em futebol, não somos candidatos ao titulo mundial e perder com a Alemanha não é o fim do mundo. E não é por isso que agora são todos uns merdas, os jogadores e o treinador e o país (quer dizer o país talvez seja mas por razões bem mais estruturais que a exibição da selecção no campeonato do mundo).
O que nos faz uns merdas é esta crença irracional e infundada de que podemos conquistar o mundo, como outrora fizemos (embora não no futebol e numa altura em que o mundo era bem mais pequeno), e a passagem deste estado, em menos de um ai, a um outro que se resume a criticar tudo e todos, em julgar e apontar o dedo aos jogadores e ao treinador (sim, que não há dúvida que eles tinham isto tudo fisgado e fizeram de propósito e devem estar neste momento a festejar a goleada que levaram e a merda de jogo de fizeram, eufóricos por terem conseguido o que mais queriam...).

Ó senhores do povo, tenham lá tino e percam a mania das grandezas,  reduzam-se à insignificância que têm e aprendam a aceitar as limitações lusas. Aprendam a estar com os vossos, não só no bom (que isso é facil) mas no mau, isso é que faz de vocês gente decente.
E se não têm capacidade para isso caguem no futebol e vão trabalhar, que para piorar o que já está mau não são precisos mais, já cá há muitos.

Eu cá estou com a Selecção, incondicionalmente. Viva Portugal. A ganhar ou a levar 4 na pá.

Efectivamente. ..

... não me ocorre melhor programa para a hora de almoço de um sábado em que a temperatura é de 40 graus à sombra do que assistir a um jogo de futebol da cria.
Já pensei e repensei, dei voltas à cabeça e nada, não me ocorre mesmo nada mais agradável e prazenteiro.

Dia de emoções

Hoje o dia foi de emoções. Emoções fortes.
Dia de Festa de Finalistas da cria mais velha, que termina esta primeira etapa da sua vida escolar. A constatação indesmentível de que a cria está a crescer, já não é o nosso bebé mas um pequeno rapazinho que já vai para o 5º ano.
No final da festa, recolhemos à sala de aula, para um pequeno convívio entre alunos, pais e professora. A professora preparou um pequeno filme, com imagens dos pequenos desde o 1º ano (em que, sentados nas cadeiras, mal chegavam com os pés ao chão e ainda eram tão bebés, todos) até agora, à semana passada em que fizeram o passeio de finalistas ao Estuário do Tejo.
E aí é que foram elas! A cria, que não só na inteligência mas também na sensibilidade sai à Mãe, desata num pranto que só visto. Chorava convulsivamente. Porque o ano acaba e vai ter saudades dos colegas e da professora. Porque vai mudar de escola e não segue com os amigos (alguns de uma vida, desde a creche) para a escola de cima, a dos crescidos.Porque tem já tantas saudadas que não consegue conter as emoções. Nem quer contê-las, quer mesmo é chorar como se não houvesse amanhã.

Esta decisão de mudar de escola tem vindo a ser pensada ao logo do ultimo ano, foi discutida entre nós (cria incluída) e foi bem aceite pelo pequeno, que embora demonstrando pena por se separar dos amigos concordou que a opção que lhe propúnhamos era uma boa opção. Inclusivamente temo-lo deixado à vontade para tomar a decisão final, transmitindo-lhe que até ao lavar das cestas é vindima e que se quiser mesmo mesmo continuar na escola essa opção pode ser reanalisada. E ele tem dito sempre que a decisão está tomada, que vai para a outra escola.
Mas a verdade é que as decisões, mesmo livres, por vezes são dolorosas e não é por as tomarmos em consciência e sabermos (ou acharmos) que são as decisões correctas que não sofremos com elas.
Aí está o exemplo. A cria chorava e soluçava. Abraçou vários amigos, a professora, auxiliares e até pais dos amigos com uma tristeza tão profunda que fazia chorar as pedras da calçada. Às tantas chorava eu e chorava o pai, lágrimas a cair pela cara era o quadro familiar.
Ó senhores, porque é que isto é tão dificil! A pergunta inevitável coloca-se: será a decisão certa?

Afinal não foi mau!

Confesso que apesar de não ter dado muita importância aos exames nacionais a que a cria mais velha se submeteu este ano (para não o pressionar e por alguma falta de tempo da minha parte, lamentavelmente), a verdade é que estava um pouco apreensiva quanto aos resultados.

O motivo da minha apreensão prendia-se não só com os exames em geral e com o receio de que, por alguma falta de maturidade ou por efeito dos nervos, a cria se espalhasse ao comprido, mas também com a circunstância de a criatura não estar nem aí e ter despendido muito pouco tempo a estudar para os exames e a fazer as fichas de preparação.  Ainda por cima, quando no final do exame de matemática falámos sobre o que tinha saído,  o primeiro problema de que me falou estava mal resolvido (todo o raciocinio estava bem, as contas estavam bem feitas, mas no fim esqueceu-se de pôr a virgula e acabou com mais 1000 berlindes do que era suposto - claro está wue nem lhe perguntei mais nada, nem ele se adiantou com mais pormenores).

Em suma, ele estava optimista mas eu nem por isso.

Hoje sairam as notas. Teve 70% a lingua portuguesa e 80% a matemática.  Acabou com nota 5 e 4, respectivamente.  O Estudo do Meio também correu bem, notas de 5. A expressao plástica este ano melhorou mas no ultimo teste voltou ao velho Satisfaz (não é dado a trabalhos manuais, está visto).
Ficou todo contente.  E eu também.

Inteligente como a mãe,  é o que é!

Mais Associação, Melhor Educação

Ontem foi dia de festa. Festa da Associação de Pais da escola da cria mais velha,  de cujos órgãos sociais fiz parte nestes ultimos anos. Um ciclo que chegou ao fim e que encerro com um balanço muito positivo, embora com  o sentimento de que podia ter feito mais... mas as forças não chegam para tudo e no fim há sempre alguma coisa que fica para trás.
Nestes anos conheci pessoas muito diferentes de mim mas que como eu acreditam que é possivel fazer, que é possivel conseguir, que é possivel mudar.  Pessoas que, sendo tão diferentes e não se conhecendo de parte nenhuma,  se juntam e trabalham como um todo, de forma completamente gratuita, nos seus tempos livres, em detrimento das suas familias, contra ventos e tempestades. E a verdade é que mudámos algumas coisas e fizémos muitas outras.
Na memória levo momentos intensos (no bom e no mau sentido), reuniões até as tantas, gargalhadas conjuntas, problemas que pouco a pouco fomos superando e problemas que infelizmente não conseguimos resolver e com os quais tivemos que aprender a conviver.
Na memória levo pessoas fantásticas, que trabalharam muito, muito mesmo, a quem aqui agradeço "publicamente": Cristina, Raquel, Anabela, Marina, nada teria sido possível sem o vosso trabalho diario e dedicação,  obrigada por terem dado tudo de vocês. Tudo e mais umas botas, na verdade.
Na memória levo um conjunto de funcionarias de ATL, que com parcos ordenados e condições de trabalho, sempre deram tudo, com dedicação e empenho. Os elogios e agradecimentos dos pais são a prova de que também com a equipa fizémos um bom trabalho e de que a equipa merece os nossos agradecimentos e tudo o que, embora pouco, pudémos fazer por ela.
Na memória levo também uns energumenos que por lá passaram, com o intuito de retirar algum beneficio ou prestigio. A estes nem dispenso palavras, mas também estes vou guardar na memória,  para me lembrar a pessoa que não quero jamais ser, pequenina,  interesseirinha, despotazinha, deslumbrada com o poderzinho de achar que manda em alguma coisa. Como tantos que há por aí.  Cruzes canhoto.
No coração levo esta experiência engrandecedora,  que me colocou frente a frente com realidades de vida tão distantes da minha, que tantos nós me deixou na garganta, que me permitiu fazer sem esperar receber coisa nenhuma, que sem dúvida fez de mim uma pessoa melhor.

No fim, fica a certeza de que não podemos mudar este mundo em que vivemos mas a certeza ainda mais forte de que podemos sem dúvida torná-lo melhor e fazer por isso todos os dias, nas pequenas coisas, dando um pouco de nós,  recebendo um pouco dos outros.
E nas escolas dos nossos filhos podemos concerteza fazê-lo. Temos a obrigação de o fazer.

Obrigada a todos os meus companheiros de viagem. Foi um prazer fazer parte deste projecto.

Dou-vos cabo do couro, ouviram bem?

Até compreendo que pais e mães não ligados à area do Direito fiquem contentes quando os seus filhos resolvem estudar Direito e seguir advocacia. É por tradição uma profissão de algum prestigio, em que existe a possibilidade real de se ganhar algum dinheiro e ter uma vida financeiramente confortável,  embora já não seja o que foi noutros tempos. Mas na verdade nada é o que era e um filho advogado é um filho advogado.
Agora que pais e mães advogados fiquem contentes pelo facto de um filho ou filha lhe seguir os passos é algo me me transcende,  honestamente. Contentes porquê? Qual é o motivo de contentamento?

Os advogados (pelo menos a maioria deles):
- estudam durante uns bons anos (agora menos que antes, por causa do malfadado Tratado de Bolonha), lambem livros atrás de livros, têm disciplinas que não interessam ao demo, para acabar o curso, na maior parte das vezes com médias miseraveis (e com uma miopia,  de tanto ler);
- a seguir ao curso, têm que fazer um estagio obrigatório de dois anos (isto se tudo correr de feição),  a maior parte das vezes não remunerado ou escandalosamente mal remunerado, sendo certo que se quiserem ter alguma hipotese têm que trabalhar arduamente,  muitas horas por dia, muitos fins de semana,  ao mesmo tempo que fazem provas na ordem profissional das quais depende a sua continuação na carreira (de referir que esse estagio na ordem profissional é pago e não é propriamente uma pechincha);
- acabado o estagio, e se abraçarem a profissão,  têm uma vida,  digamos, dura: leis que mudam todos os dias, processos que se arrastam nos tribunais, clientes que fazem tudo mal e depois os procuram para os milagres (esquecendo-se que os mesmos, a terem lugar, devem ser pedidos lá para os lados de Fátima,  a uma tal de Maria,  e não aos senhores doutores), clientes que pensam que os advogados,  além de os representarem num determinado processo ou assunto, são amigos, psicólogos,  confessores,  conselheiros matrimoniais e o diabo a quatro,  clientes que não respeitam dias nem horas e pensam que os advogados não têm familia, não almoçam,  não jantam,  não têm ferias nem fins de semana, não têm contas para pagar, nada, são uns seres que existem pura e simplesmemte para os auxiliar a viver as suas vidas, a troco de uns honorarios que pagam tarde e a más horas e que muitas das vezes, feitas as contas ao tempo despendido,  acabam por ser metade do valor hora de uma empregada doméstica (sem qualquer desprimor para a empregada doméstica);
- trabalham sistematicamente sob pressão, pressão dos prazos (que aparecem a cada esquina,  inviabilizando qualquer tentativa de planificar antecipadamente o dia - planear a semana é, obviamente, uma utopia),  pressão dos clientes (que acham que os advogados só têm em mãos o seu assunto e que se telefonarem assim que acabarem de enviar o email com os documentos que ficaram de enviar há duas semanas o advogado vai parar tudo, imediatamente,  para tratar do seu assunto), pressão  dos próprios assuntos que tratam (que são essencialmente problemas, problemas todo o dia,  todos os dias de todas as semanas de todos os meses de todos os anos);
- têm o azar de nunca despirem a pele de advogados,  nem nos jantares de familia, nem nas festas de aniversario, nem no Natal, nem nos casamentos ou batizados (nos funerais então é a loucura). É verdade, mesmo nessas ocasiões há sempre um familiar, um amigo, um conhecido que tem um problema com o patrão ou o empregado,  um divórcio, um poder paternal, uma divida, um problema no condominio, um cliente que não paga, uma questão de heranças e partilhas, um plasma com um defeito qualquer, e já que estamos ali todos, a velar o morto ou a cantar os parabens e a comer croquetes, aproveita para ter consulta juridica de borla (afinal é só dar uma opiniao e quiçá escrever uma cartinha, como se fosse assim,  meter a ficha e sair a opinião ou a cartinha); isto para não falar dos "amigos" que só se lembram que o advogado existe e é (ou foi) seu amigo quando têm uma duvidazinha juridica ou querem uma opinião (e nao hesitam em ligar, mais uma vez a pedir conselho juridico à borla, até porque são amigos nao obstante não conhecerem os filhos do advogado, não verem o advogado nem falarem com ele há anos, nem sequer para lhe darem os parabéns no aniversário mas já se sabe, a vida é uma correria);
- trabalham que nem uns cães, num trabalho desgastante, sempre a estudar, agarrados a leis e ao computador, e chegam ao final do dia com a cabeça feita em água, sendo que muitas das vezes é impossivel fechar a porta do escritorio e tirar o chip, pois os problemas para resolver,  a definição da estratégia a seguir em determinado processo,  o espectro dos prazos dos dias seguintes não os largam, ficam sempre ali a pairar.
Claro que a profissão também tem coisas boas embora agora de repente não me ocorra nenhuma digna de registo.

Isto tudo para dizer que se algum dos meus filhos, algum dia, tiver a infeliz ideia de querer ser advogado não só leva a maior tareia da sua vida como é expulso de casa. E falo muito a sério.