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A importância de olharmos um pouco alem do nosso umbigo

Vivemos tempos difíceis, não é novidade.
E pelo que se me afigura este estado de coisas não é passageiro, muito pelo contrário, tende a piorar nos próximos tempos, adivinhando-se dias (anos) pouco risonhos para este país à beira mar plantado.

Todos os dias conseguimos deprimir um bocadinho mais. Todos os dias perdemos um punhado do (pouco) optimismo que (pelo menos alguns de nós) ainda conseguimos ter. Todos os dias deixamos pelo caminho um pouco da esperança que "isto" dê a volta rapidamente.

E nestes tempos que vivemos é essencial despertarmos a nossa consciência social, é preciso intervirmos, agirmos, não nos ficarmos pelos queixumes. É preciso deixarmos de seguir a máxima de que "pimenta no cú dos outros para mim é refresco".

Que fique já claro que, com isto, não estou por qualquer forma a subscrever ou a concordar com as declarações  do 1º Ministro, que nos chamou de piegas (piegas é a mãe dele e infelizmente casou-se, e pô-lo no mundo, que vivia tão bem sem ele).
Com isto quero dizer que já que infelizmente não podemos contar com o Estado-Social (acho que todos temos consciência disso, neste momento) está na altura de deixarmos de olhar apenas para o nosso umbigo e passarmos a levantar a cabeça, olhar à volta e reconhecer que há quem esteja bem pior que nós, quem não tenha para onde se virar, quem já tenha perdido todas as esperanças, todas as forças.

Como cidadã, como mãe, como pessoa, preocupa-me (entre muitas outras coisas) que haja crianças neste país que só comem na escola. Crianças cujos pais não conseguem comprar-lhes os materiais escolares de que precisam para estarem em igualdade de circunstancias com os outros colegas e, desse modo, conseguirem estudar, progredir, sonhar com um futuro melhor. Mesmo que nesta altura sonhar com esse futuro seja difícil. Aflige-me existirem crianças que para terem livros escolares tenham que ser privadas, elas e as suas famílias, de bens essenciais. Pais que para poderem financiar as elevadissimas despesas escolares e de sustento dos seus filhos tenham que deixar de pagar a renda de casa.

TODOS NÓS PODEMOS FAZER ALGUMA COISA PARA MELHORAR A VIDA DE ALGUÉM. TODOS, SEM EXCEPÇÃO.
Porque para ajudar não é preciso só dinheiro, que esse sabemos que não abunda em casa de muitas famílias. É preciso sobretudo vontade, é preciso querer, é preciso sair da zona de conforto, é preciso repartir, pensar no outro. Levantar o rabo do sofá.

Custa muito, no final do ano lectivo, reunir lápis, canetas, mochilas e afins que sabemos que os nossos filhos não vão usar no ano seguinte e em vez de os encafuar numa gaveta qualquer contactar as escolas e associações de pais que têm bolsas de usados? Não, não custa nada, só um saco (se for do Continente nem custa o saco), um telefonema e uma viagem à escola.
Custa muito, no final do ano lectivo, pegar nos livros escolares e, em vez de os guardar na arrecadação dentro de uma caixa (caixa essa que, com sorte, os nossos filhos vão abrir quando saírem de casa para morar sozinhos ou para criarem a sua própria família, altura em que vão concluir que o melhor é deitar fora aquela tralha inútil), entregá-los nas escolas, nas associações de pais, noutras instituições que fazem essa recolha e posterior distribuição por alunos que os podem voltar a usar e a cujas famílias essa poupança na compra dos livros dá muito jeito? Não custa nada, só um saco um pouco maior e mais resistente (que os livros pesam mais do que os lápis), o mesmo telefonema e viagem.
Custa muito associarmo-nos a acções sociais e solidárias, promovidas por instituiçoes que fazem trabalhos notáveis nessas áreas, ou mesmo fazermos pequenas acções para com pessoas que estão mesmo ao nosso lado, nos nossos trabalhos, nas escolas dos nossos filhos, no café onde tomamos o pequeno almoço? Muitas vezes não custa nada, ou custa pouco.

Hoje ajudamos. Amanhã talvez precisemos de ser ajudados (que isto a descer, como diz o povo, todos os santos ajudam). E se ainda assim quando viermos a precisar não tivermos a ajuda de ninguém teremos sempre o consolo de que somos bem mais ricos do que muitos dos que têm muito mais do que nós.
Toca a mexer, minha gente!

1 comentário:

  1. Gostei Margarida! Muito bem escrito e muito oportuno! Vamos lá embora a mexer e não nos venham com a conversa de que: "Só eu não vale a pena, não faz diferença!" Porque vale mesmo a pena, quando a alma não é pequena...

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