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E este nó na garganta...

Ouvi a noticia do desaparecimento de seis estudantes, engolidos pelo mar da Praia do Meco, à hora de almoço, naquele domingo de há dois meses atrás. Que tragédia, pensei. Sem mais.
Ao final da tarde desse mesmo dia, ao entrar no meu prédio, constatei que o rapaz já encontrado sem vida era o T., meu vizinho de prédio. Encontrei os pais a chegar a casa, a mãe em braços, uma dor lancinante no seu rosto. Fiquei desolada, acho até que quando tomei consciência desta realidade me fui abaixo nas canetas. E não consegui evitar as lágrimas que me inundaram os olhos. E a alma.

O T. era um míudo 5 estrelas, simpático, educado, boa onda. Era um miúdo. Giro. Alegre. Cheio de vida. Tinha 21 anos. Tinha acabado a licenciatura. Filho único da mãe. Era um miudo porra!
 
Estive todos os dias que se seguiram a pensar sistematicamente no T. e na sua mãe, a ver a cara dele, giro o miudo. Vi-o crescer. Vi-o na escada, no banco de jardim à porta do predio com os amigos, a sair para  o futebol, a chegar da faculdade, a despejar o lixo. Ao longo dos anos. Tantas vezes se metia com os meus filhos. Tantas vezes me meti com ele. Que merda esta que lhe havia de acontecer!

Estive todos os dias que se seguiram quase a rezar para não encontrar a mãe do T. na escada, só com medo de ver o sofrimento dela. Vi-a no velório. Um caco. Nem consigo descrever a tristeza e o desespero que vi nos olhos daquela mulher. Vi-a no dia em que fizeram a homenagem na praia. Uma dor que não se consegue explicar. Um nó na garganta que não se desfaz. Vejo-a ao longe de vez em quando e nem tenho coragem de me aproximar pois sei que nem o meu mais sentido abraço lhe vai dar algum consolo. Nada lhe vai dar consolo. Não há  consolo possível.

Passaram dois meses. As noticias sucedem-se. As não noticias também.  As especulações são muitas. As certezas são poucas, apenas uma é certa certa, a de que a vida destes miudos acabou precocemente e de forma trágica. 
Nestes dois meses não passa um dia, um único dia, em que não pense no T. ... Às vezes até dou por mim a imaginar que me cruzo com ele na escada e que tudo isto não passou de um sonho mau. Muitas vezes não consigo conter as lágrimas,  quando penso nele e na mãe,  quando vejo uma imagem na televisão ou uma foto num jornal. Ainda ontem vi uma foto dele em pequeno e toca de abrir a torneira...
Não é justo, isto. É mesmo uma grande merda e por mais voltas que dê à cabeça não consigo encontrar nenhuma lógica nisto. Só me leva a crer que o destino está traçado, para o bem e para o mal.

Quando a tragédia mora ao lado parece que é mais trágica. Quando a tragédia mora ao lado temos plena consciência de que um destes dias, do nada, nos pode entrar pela porta adentro,  sem bater, sem pedir licença,  invadindo a nossa casa e deixando-nos sem qualquer hipótese de lhe barrar a entrada.  E isso é assustador...

A verdade é que a minha unica relação com este miúdo era de pura vizinhança, pelo que até a mim me faz confusão esta tristeza que sinto, esta pena que tenho dele. E da mãe dele, que não me sai da cabeça. 
Acho que nunca me vou esquecer deste miúdo e desta tragédia. Acho que este nó na garganta veio para ficar.

Espero que descanses em paz Tiago. Eras um miudo top. Tinha que te dizer isto.

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