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Parabéns Martim

Faz hoje 8 anos nasceste, logo cheio de energia e com sangue na guelra. Eras um bebé lindo de morrer, eras mesmo.
Volvidos estes anos continuas um menino lindo, meigo, esperto e maravilhoso. Um menino que cativa todas as pessoas que contigo se cruzam. O orgulho da mãe.

Hoje, pela primeira vez, estive muito triste no dia do teu aniversario mas tentei que tivesses o teu dia, como mereces. Acho que consegui, a custo, mas consegui. Porque a vida é mesmo assim, mesmo em dias de grande tristeza, em que só  nos apetece chorar, temos que proporcionar a felicidade àqueles que amamos. E a ti, meu amor, amo-te tudo.

Parabens cromo 57.

Avózinha

Querida Avó,

Hoje partiste. Foste em paz, disse o médico. E eu acredito. Quero acreditar que depois destes dias de sofrimento o teu Deus te levou para junto dele, tranquilamente, com serenidade, como mereces. E eu tenho vindo a pedir ao teu Deus, nestes dias, que assim o fizesse. Se calhar ele ouviu as minhas preces, se calhar o teu Deus, no qual com o tempo e com a vida deixei de acreditar – para teu grande desgosto, bem sei –, existe mesmo e olhou por ti, para que parasses de sofrer.

Sabes avó, custa-me muito ver-te partir, saber que não mais te vou ver nem abraçar. Mas custava-me mais, acho, ver-te como tens estado, por isso creio que apesar da tristeza imensa estou mais aliviada. E tu também. Principalmente tu minha avozinha querida.
Nestes dias tenho visto passar à minha frente estes quase quarenta anos, dos quais sempre fizeste parte, em todos os momentos e fases.

Lembro-me da infância, em que me levavas contigo para o trabalho, lá íamos nós no 26, eu toda contente com a minha avó, tu toda contente com a tua neta. Costuravas cuecas para os meus bonecos, exibias-me com orgulho às tuas colegas, lembras-te avó?
Lembro-me do teu arroz doce, o melhor que alguma vez comi e que que comerei em toda a vida, não tenho dúvida. Lembro-me do teu cozido à portuguesa, dos sábados de carapaus assados no fogareiro da varanda, das pataniscas de bacalhau.

Lembro-me do teu fato de banho azul. De teres caído à beira mar com água pelos tornozelos e de nos escangalharmos a rir. Na praia do Carvoeiro. Lembro-me como se fosse ontem.
Lembro-me de ter ficado em tua casa durante 10 dias, quando estava a estudar para entrar na Católica. Levavas-me leite quente antes de ir dormir, que não podia estar a estudar de barriga vazia, e levavas-me o pequeno almoço de manhã…

Lembro-me de durante anos ir a tua casa pelo menos uma vez por semana e ficar a falar contigo horas. Tínhamos ideias e ideais tão diferentes! Mas ouvias-me  e eu a ti. Nunca chegávamos a grande conclusão mas passávamos bons momentos juntas.
Lembro-me de tanta coisa avó, tanta coisa. Foste uma mulher e peras. Sempre aqui para mim, para todos nós. Com o teu feitiozinho soviético, é verdade – o teu filho, meu pai, saiu a ti e eu saí ao teu filho – mas sempre a viver pelos outros, pelo bem estar dos outros. Às vezes até demais.

E agora que partiste avó, apesar de muito triste – que estou – não posso deixar de me sentir uma privilegiada por te ter tido como minha avó e por ter tido comigo durante quase quarenta anos. Não posso deixar de me sentir grata por tudo o que foste para mim, para tudo o que representaste na nossa família, por tudo o que foste. Tiveste dois filhos maravilhosos, que te amam tanto quanto os amaste. Dois filhos que estiveram sempre contigo, de corpo, alma e coração. O meu pai e a minha tia quase mãe. Deves ter um orgulho imenso, eu sei que tens e não é para menos, fizeste um bom trabalho.

E sabes avó, é isso que me enche o coração, saber que sempre foste amada e sempre nos amaste, que sempre tiveste orgulho em nós e sempre nos orgulhaste, que farás sempre parte das nossas vidas porque estarás sempre sempre sempre no nosso coração.
Gosto de pensar que a vida tem o seu tempo, que tudo tem um princípio e um fim e que o fim não é necessariamente mau, é o que tem que ser. E tento aceitar isso. Com a certeza de que continuarás a olhar por mim. Com a promessa de que tudo farei para te continuares a orgulhar de mim e nunca te desiludir.

Minha avozinha querida. Segue em paz, quem sabe um dia nos voltamos a encontrar. Amo-te muito. Amo-te sempre.